sexta-feira, 10 de abril de 2009








Muito prazer, este é Joel Pizzini.

Joel Pizzini nasceu no Rio em 1960, mas morou a vida toda em Dourados, Mato Grosso do Sul. Chegou a cursar engenharia na Faculdade Federal, nesta época freqüentou o cineclube Coxiponés, onde começara a ver filmes.
Fim dos anos 70 largou engenharia e foi para Curitiba estudar comunicação, a partir de então se deflagrou toda a possibilidade de fazer cinema.
Envolveu-se com o movimento estudantil.
Fez experiências com Super 8.
Aproximou-se da cinemateca de Curitiba onde organizou seminários e sessões de vídeo e cinema.

“O Limite” na vida de Joel

Joel na adolescência já arriscava seus poemas e percebeu que podia fazer isso no cinema através da obra de Mario Peixoto. “Limite” seria o filme o qual reconhece ser um divisor de águas em sua vida.
Foi assistente de direção do Silvio Back no filme “A Guerra do Brasil” e chegou a escrever um projeto de documentário sobre Mario Peixoto, porém, não vingou.
Chegou a procurá-lo e ficou amigo dele, desta amizade originou o filme “Mundéu, Invenção do Limite”.
Depois disso, foi pra Campo Grande onde se envolveu com o movimento cineclubista mais uma vez. Promovia sessões nas ruas, em bares, em qualquer lugar que acolhesse os filmes. Na época do cinema marginal, realizou mostra de filmes do Bressane no cine SESC.

Pizzini e o vídeo-poema

“Caramujo-Flor” (1988) foi um filme resultado de um encontro com a obra de Manoel de Barros. Ensaio e ficção poética que reinventa o itinerário da poesia através de uma colagem de fragmentos sonoros e visuais
Em 45, Manoel de Barros não vivia no burburinho literário, hoje ele é traduzido no mundo inteiro.
Premiado no Festival de Brasília em 88, melhor direção e melhor fotografia; Melhor montagem em 89- Rio Cine; Melhor Filme (júri oficial) no Festival de Huelva na Espanha.
Na década de 80 houve a ecatombe provocada por Collor na Embrafilme, então ficou de 88 a 94 sem filmar. Voltou para Mato Grosso do Sul, onde foi diretor da Fundação de Cultura do Estado.

Retorno ao cinema

Em 94 surgiu o primeiro edital através da Lei Rouanet e seu filme, “Enigma de um Dia” (1996), foi aprovado. O filme faz o espectador penetrar no filme através de um funcionário de museu, um vigia, penetra num quadro de De Chirico, que é introduzido, através do cotidiano, no universo metafísico do pintor italiano.
Foi seu retorno ao cinema e também do ator Leonardo Villar, afastado 30 anos do cinema, além do fotografo Mario Carneiro que teve que ir para a publicidade, afastado do cinema 10 anos. O filme foi selecionado para a Bienal de Veneza.
Melhor Filme no Festival de Gramado em 96; melhor filme no Festival de Figueira da Foz em Portugal -97; Seleção oficial no Festival de Veneza em 97.

Fez um documentário sobre a obra de Iberê Camargo, “O Pintor” (1994), rodado em Super 8, 16 mm e Betacam, que coloca em primeiro plano a oficina do artista.

Depois dirigiu “Pig Bank” (1994), alegoria antropofágica sobre o poder econômico, baseado no mito de Hércules contra o Javali de Erimanto, interpretado por um menino de rua e com musica original de Itamar Assumpção.
“Glauces- Estudos de um rosto” (2001). Glauces era filha de um rei, rival de Medeia. Melhor filme e melgor montagem no Festival de Brasília em 2001. Seleção Oficial de Locarmo na Suíça em 2002.

Relação com a TV

Através de um contrato que assinou com a TV Brasil, que o convidou para realizar uma série de cinebiografias, realizou “Um Homem Só” (2000), que representa a busca de 16 personagens construindo seu autor, Leonardo Villar, o ator de “O Pagador de Promessas”.
“O Evangelho Segundo Jece Valadão” (2001) é um documentário sobre o ator da porno-chanchada. Produtor, diretor e ator que criou tipos, virou mito da masculinidade e se converteu, passando a ser pastor evangélico e pai de família.
“Paulo José, Um Auto-Retrato Brasileiro” (2002), documentário sobre o ator, narrado a partir do making-of do longa metragem “500 Almas”, em que o ator interpreta 6 personagens.
“Retrato da Terra” (2004), documentário de montagem narrado em primeira pessoa pelo cineasta Glauber Rocha, abordando sua defesa da expressão áudio visual e uma reflexão política a partir dos diálogos dos personagens de seus filmes. Com uma edição livre de imagens do programa de TV “Abertura”, que Glauber comandava no final dos anos 70, “Retrato da Terra” provoca ainda uma discussão metalingüística sobre a função e o sentido da televisão.
“Elogio da Luz” (2004), filme ensaio sobre a obra de Rogério Esganzerla, parte da mais recente criação do cineasta “Signo do Caos” (2003), para recriar sua trajetória artística, revelando o processo criativo de seus clássicos como o “Bandido da Luz Vermelha”, entre outros.
“500 Almas” (2004) recupera o universo da cultura Guató, etnia milenar que chegou a ser considerada extinta da década de 60 e vive hoje dispersa pelo Pantanal, apesar de ter reconquistado parte de seu território na década de 70. A memória sociopolítica dos guatós é recriada por meio de encenações do julgamento do assassinato de um de seus líderes, cujos autores continuam em pune.
Segundo Pizzini, ficava incomodado porque não queria apenas ilustrar a vida indígena, além disso, não é antropólogo. Ele queria fazer um longa-metragem político, tinha esta necessidade, devido suas experiências no Mato Grosso do Sul, segunda maior população indígena. Segundo o autor, a descoberta do termo “etnopoesia”, o deixou mais a vontade pra realizar o que ele chamou de “prosa poética”. O filme foi adquirido pelo MOMA.
Melhor filme no Festival do Rio em 2005; melhor documentário Latino Americano- Festival Mar Del Plata, 2005; Melhor documentário Latino- Cinesul, 2005.
“Dormente” (2005), filme de imagens de estações, trilhos e cabos elétricos, que é relativo a infância do cinema, a primeira exibição pública, feita pelos irmãos Lumière, é do trem chegando a estação, o trem é um signo do movimento. O vídeo foi relacionado com a obra de Dziga Vertov, “Entusiasmo”.
“Abry” (2003), documentário sobre Dona Lúcia Rocha, mãe de Glauber, que aos 84 anos, faz exames pro coração num hospital.
“Helena Zero” (2005), ensaio documental sobre o universo criativo da cineasta e atriz Helena Ignez, por meio de um ritual de tai chi chuan, evoca e reinventa a memória.
“Suite Assad” (2003), sobre o encontro de 3 gerações da família Assad.
“A Morte do Pai” (2007), filmensaio sobre 3 passagens de Roberto Rosseline no Brasil, especialmente seu diálogo com Glauber Rocha.
“Depois do Transe” (2003), filme de montagem, inspirado no texto de Glauber, encontrado por Paloma nos arquivos do Tempo Glauber, “Depois do Transe” é uma reflexão sobre o processo de criação de “Terra em Transe”, estruturado a partir de entrevistas com a equipe e o elenco do filme, jornalistas, sobras inéditas e depoimentos de Glauber nos anos 70, extraídos de 12 horas de uma entrevista inédita à cineasta Raquel Gerber, em Roma. Entre outras entrevistas em fita k-7, restauradas para o documentário.
“Anabazys” (2007), um prolongamento de “A Idade da Terra” (1980), junto a Paloma Rocha, filha de Glauber com Helena Ignez e sua esposa. O longa nasceu de um extra de DVD para o relançamento do filme, último do artista pai do Cinema Novo. Anabazys nada mais que material bruto do filme original encontrados no Tempo Glauber, que tinha duração de 4 horas na primeira versão de Glauber. O filme gerou discussão no Festival de Friburgo na Suíça, pois é difícil classificá-lo, é documentário, ou não é(?). Afinal o que é o vídeo?
Está envolvido no processo de restauração dos filmes de Glauber.
Pizzini chegou a produzir um vídeo-instalação para os 50 anos da Bienal de São Paulo, que eram imagens para assistir pelo olho mágico.