quarta-feira, 14 de outubro de 2009

net@art

Net@rt: as múltiplas experiências nos espaços diversos.


As circunstâncias da arte na internet refletem ações artísticas que compartilham um processo de intervenção midiática. Integram trabalhos e se apropriam de outras obras, buscam o inacabado para permitirem que a obra esteja aberta. Os movimentos são pré-programados, podendo, porém, o interagente transitar por espaços variados, tendo autonomia de continuar ou interromper. O objeto é abstrato e manipulável num espaço construído.
Navegar na internet é uma prática atual, os conceitos que acompanham o discurso da NetArt são condições estéticas impostas pela contemporaneidade e caminham para as mais diversas áreas de produção. Passa a ser um novo circuito e uma rede de conexões entre práticas artísticas. Ao invés do observador ir até ao espaço físico para ter contato com a obra, o encontro se dá pela tela do computador, num contato virtual através da internet.
Há um paradoxo: o uso é virtualmente coletivo, contudo, a experiência física é individual e até mesmo solitária.
Nesse universo, a NetArt é um prenúncio das relações corpo-máquina e, também, corpo-máquina-corpo. É base de uma arte não-linear em ambientes de fluxos contínuos de informação.
Não se trata de abordar apenas o monitor, como outro veículo, tipo a televisão, trata-se de verificar a linguagem que transita e dialoga indistintamente por vários campos da arte. Trata-se de interagir, mesmo que minimamente, com o que está exposto.
A arte na internet é desconfigurada frente à representação visual no contexto da imagem digital vivenciada em tempo real ao acontecimento único.
Faz-se a obra interativa com as linguagens da programação computacional em conjunto com a virtualidade do ciberespaço. As mais variadas manifestações dialogam na contemporaneidade através da internet.
A NetArt é a arte da comunicação.
A idéia de internet traz a possibilidade de reformatar diversas estratégias de criação a partir da noção de programação. É linguagem sem território, desmaterializada, fragmentada, sendo possível construir mil maneiras de produção artística.
Com os artistas e seus projetos poéticos, podemos fazer parte da criação, interagindo, modificando a obra, numa espécie de co-autoria compartilhada, traçando um caminho particular de leitura e interpretação.
“Ver é se ver vendo”- Merleau Ponty.

É importante termos a consciência de uma obra em processo, inacabada, em movimento e transformação. O ecletismo, a sintetização das artes e re-apropriação de estilos são características da NetArt.
As conexões e misturas são parte de um processo estabelecido a partir dos mecanismos de interface, onde o foco de atenção se encontra entre os deslocamentos dos meios representados por imagens e sons eletrônicos.
O compartilhamento de imagens disponíveis significa um complexo eletrônico que passa por acervos e bancos de dados.
No circuito da web podemos encontrar as redes de comunicação, o hipertexto, a hipermídia, numa dinâmica interativa e colaborativa que a internet possibilita. Trabalhos híbridos nas mais variadas práticas entre o espaço físico e o virtual (ciberespaço).
A obra armazenada na memória do computador, disponível em rede, é facilmente manipulável, transformado e renovado mediante diálogo, num feedback entre criador – computador – objeto - internauta/participador. São não-objetos e não-locais, mas são trabalhos artísticos que não só abrem possibilidades, como convidam e compartilham experiências estabelecidas por esta cultura (digital).

A arte na rede pressupõe a interdisciplinaridade por experimentações relacionais e situacionais.

No site WWW.nomuque.net, por exemplo, encontramos situações diversas, as quais transitam trabalhos num espaço labiríntico, não hierárquico, de obras diversas, como apropriações da arte clássica, do passado, da história e etc.
Verifica-se, dentro deste site, o espaço de poesia sonora chamado, “balalaica”, que a palavra significa um instrumento de cordas do folclore russo e típico deste país.
Neste espaço encontra-se um velho toca-fitas e uma série de fitas analógicas representadas na tela. Tem-se a possibilidade de arrastar, com o mouse, qualquer fita para dentro do aparelho, ouvindo, então, o que está dentro dele.
Dentro destas fitas há os mais variados sons, desde “DIAS DIAS DIAS” de Augusto de Campos (1959), com tradução e voz de Caetano Veloso (1975) a “BALALAICA”, de Maiakóvski (1913) e tradução de Augusto de Campos, entre muitos outros numa mistura de gêneros clássicos. O próprio internauta pode colocar mais de um som em paralelo, criando uma sonoridade outra, diferente de qualquer som, podendo ser experimentado apenas pelo próprio observador naquele momento.
Neste mesmo site, pode-se conferir a ARTERIV onde associa-se imagens e sons, também o DISCERNIR, que é uma coletânia de textos e imagens e o ARTEIA 8, um espaço rotativo onde pode-se conferir trabalhos de diversos artistas, podendo escolher quais e em que momento ver cada um. É um misto de imagens, sons, expressões e idéias. Não vê-se o site como obra em si, como um trabalho de arte, como por exemplo mouchette.org.
O site mouchette.org é um espaço artístico, que não abriga, apenas, trabalhos artísticos, porém, o próprio espaço já é uma obra de arte. Se dialoga textualmente e se pode acessar janelas dentro de outras janelas, um misto de imagens e sons cheios de significados. Um espaço interativo onde se tem a proposta de estar visitando um site de uma menina de 13 anos, coloca-se diversas questões que não gostaria de entrar no mérito aqui.
Já o nomuque.net abriga trabalhos artísticos e é utilizado para publicidade também. Portanto, a forma de como os trabalhos são agrupados no site NOMUQUE.NET, tanto no espaço ARTERIA 8, como no DISCERNIR, no ARTERIV e BALALAICA, apesar de não ser um site que já é a própria obra em si mesmo, são espaços criativos, interativos e que abrigam trabalhos artísticos, que mexem com o imaginário visual, mesmo quando a experiência é sonora.
As fotografias, os vídeos, os desenhos, os sons, as imagens em geral são fragmentadas, compartilhados como colagens, num discurso não-linear de recombinações. É um site de um coletivo poético sonoro, muitas vezes crítico, noutras, lúdico. Ou crítico e lúdico ao mesmo tempo. O virtual extraído do real.

O vídeo na internet: o espaço re@l que se torna virtu@l e vice-versa.

O espaço real muitas vezes é compartilhado com as imagens em movimento do vídeo através da internet, tornando-se, assim, um espaço virtual.
A facilidade nos últimos anos de se obter um equipamento que grava som e imagem aumentou bastante, facilitando esta forma de comunicação. Nos dias de hoje, é possível fazer vídeos com o celular, câmeras fotográficas ou uma pequena mini-dv, capazes de capturar imagens com razoável resolução. O ambiente interativo da internet é propício para abrigar estes trabalhos vídeofonográficos. O século XXI é o século da tectonolia digital.
O vídeo é utilizado em procedimentos artísticos relacionados às linguagens digitais e de interatividade. Cria-se uma ponte visual entre o espaço físico e o virtual na vídeo-conferência ou com a web-can. Ao mesmo tempo que se tem uma aproximação (virtual), há uma distância (física).
As performances ao vivo são mediadas por estes veículos e estas trocas são possíveis apenas através delas, a telepresença é nômade que se abre numa complexa rede de comunicação e se dilui no hibridismo, passando por diferentes circuitos midiáticos e canais receptivos. O corpo dialoga com a máquina que dialoga com o outro, a máquina em rede torna possível a troca de experiências, o artista também torna-se observador. Se o artista esta utilizando o espaço virtual para se expressar, o observador no espaço real está no espaço virtual para o artista, como num espelho, citando mais uma vez, Merleau Ponty: “Ver é ser visto”.
Eduardo Kac é uma grande exemplo de um artista que trabalha com poesia visual, bio-tecnologoa, interfaces, interatividade e telepresença. Seu trabalho de âmbito tecnológico e experimental pode ser encontrado no site www.ekac.org.
Kac trabalha com natureza e tecnologia, uma de suas instalações interativas é o “Teleporting an unknown state”, no qual, pessoas de qualquer lugar do mundo apontam suas web-cans para o céu e, através da internet, transmitindo a luz do sol para dentro de uma galeria de arte, onde se encontra uma planta e fótons capturados são direcionados a ela, fazendo com que a planta cresça. As imagens das câmeras transportadoras de luz solar acontecem em tempo real, vindas de lugares diversos. O processo de crescimento da planta tambem foi transmitido, via internet, ao mundo, permindo os internautas acompanharem e também intervirem.

Mail@rt

A Arte Correio, segundo Paulo Bruscky, no texto, “Arte Correio e a Grande rede: hoje, a arte é este comunicado” , é uma saída para a própria arte, uma fuga, uma experiência anárquica mesmo, “antiburguesa, anticomercial, anti-sistema, tc.”
Para ele, os artistas que utilizaram o correio e a internet fizeram uma corrente em que a arte cumpre com suas principais funções: “a informação, protesto e denúncia”. A arte passeia por diversos lugares, passa por diversas pessoas, até voltar para o transmissor através de envelopes, fax, cartas, etc. Nãoé apenas enviar um objeto artístico pelo correio, mas o próprio correio faz parte da obra, como veículo, como meio e como fim.

Bruscky diz que Marcel Duchamp é o pioneiro da Arte Postal.
A Mail Art surge na década de 60 com o grupo Fluxos.

Aqui no Brasil, Gilberto Prado desenvolve trabalhos de arte e comunicação a partir da década de 80 com atuações em tempo real. Também pesquisador (wawrw.iar.unicamp.br), participou de um projeto chamado “telescanfax” em 1991 em Paris, onde o autor interpretava com suas próprias palavras a leitura de imagens de televisão com scanner de mão e enviando imagens transformadas a outro lugar por fax-modem. Seu trabalho, “La vendeuse de fer à repasser”, veio de Paris para um grupo de artistas que estavam no Rio, numa exposição chamada Luz Elástica, organizada por Eduardo Kac no MAM.
A Web-instalação de Prado, “Depois do Turismo vem o colunismo” é um portal monitorado por duas web-cans funcionando em tempo real.
Em 2002 o grupo Corpos Informáticos realiza o trabalho “Macula@corpos”, performance em telepresença.
Para Julio Plaza, no texto, “Mail Art: arte em sincronia”, na Mail Art se predomina a mistura de meios e de linguagens e o jogo é invadir outros espaços-tempos.


Priscilla Duarte
2009/01


Bibliografia:

Alex Primo.. “Quão interativo é o hipertexto?: da interface potencial à escrita coletiva.
André Lemos. “Arte Eletrônica e Cibercultura”.
Christine Mello. Cap. VI- Compartilhamento do Vídeo. In: Extremidades do Vídeo.
Julio Plaza. “Mail Art: arte em sincronia”. In: Escritos de Artista- anos 60-70. Glória Ferreira e Cecília Cotrim (orgs.)
Paulo Bruscky. “Arte Correio e a grande rede: hoje, a arte é este comunicado”. In: Escritos de Artista- anos 60-70. Glória Ferreira e Cecília Cotrim (orgs.)