quarta-feira, 6 de agosto de 2008

comentários sobre cinema

"A magia do cinema..." Quem primeiro a reconheceu foi Mélies, que apesar de experiente em truques, como mágico, nunca havia visto um tão perfeito. Imitação perfeita da natureza, ou será a própria realidade?A vontade de reproduzir a realidade não é novidade, a história da pintura mostra os avanços a caminho desse objetivo, com o uso da perspectiva, por exemplo. Indo além da pintura, seguindo a história, a fotografia surge ameaçando a representação naturalista, que não teria mais porque com a câmera fotográfica. Perguntaram-se: "será o fim da pintura?" Obviamente não foi, assim como a TV não tirou a "magia" do cinema.O "cinematógrapho" era usado no início somente a serviço da ciência. O francês Marey, criador do "fuzil fotográfico", capaz de tirar 12 fotos/segundo, demonstrava o seu desprezo pelo cinema espetáculo, para ele não havia sentido projetar o que se vê melhor com os próprios olhos. Na verdade, essa crítica de Marey não deixa de ser coerente, já que na mesma época, final do XIX, esse era o discurso contra o estilo já esgotado que vinha dominando as artes desde o início do renascimento, o naturalismo. Percorrendo o mesmo caminho, mas em tempos diferentes, o cinema, assim como os fazeres artísticos mais antigos, pintura e escultura, também buscou comprovar a sua pureza. Se pintores e escultores precisaram lutar pelo o reconhecimento de suas artes, no cinema não foi diferente, sendo visto como tal depois do aperfeiçoamento do seu processo de montagem. Os efeitos usados nessa etapa puderam mostrar que o cinema não se destinaria apenas a mera cópia, mas manipulação de uma realidade por um autor, que como qualquer artista, expressa sua interpretação e é capaz de recortar o espaço a sua maneira. Mais tarde, com o expressionismo alemão, essa subjetividade do cinema é escancarada.A arte cinematográfica, ou seja, a arte da montagem, se desenvolveu muito no cinema de Eisenstein. Sem o velho objetivo de reprodução do real, ele construía uma nova realidade. Ele desenvolvia um raciocínio para o entendimento da história, um pensamento dialético para dar sentido às suas imagens. A música, apesar de ter sido acrescentada aos seus filmes posteriormente, ela possui um papel importante, pois reforça as emoções das imagens mudas já bem expressivas.Eisenstein não se aproveitou do valor de troca atribuído ao cinema pelo "star- system", o estrelato, pois seus personagens não seguiam trajetórias individuais. Em seus filmes que retratam a situação da URSS onde vivia, uma classe inteira era protagonista, a classe dos trabalhadores, ou mesmo a própria Revolução de 1917, em Outubro, assumia esse papel. Eram personagens coletivos. Inclusive, em tais filmes, é irônico como o cinema, "a arte da burguesia", essa que o incentivou como meio de propagação de suas idéias, costumes, facilitando a dominação cultural, ideológica e estética, é usado menosprezando esta classe, e a favor daqueles menosprezados por ela.Dedicando- se ao cinema brasileiro, pode-se observar hoje o seu crescimento e maior desenvolvimento, por mais tardio que pareça. Existe sim há muito tempo uma produção brasileira, porém dificultada pela "febre norte- americana". Além de possuir mais recursos, essas grandes cinematografias dominam os gostos, e por ser de mais fácil acesso, acostuma os espectadores a ritmos e formatos específicos. Aqui se trata também de política, pois países subdesenvolvidos são obrigados a abrir seus portos àqueles de quem depende financeiramente. Por essas coisas que o Brasil acabou por educar espectadores principalmente para o cinema legendado, pouco treinados auditivamente e visualmente. Filmes nacionais sempre parecem ter o som péssimo! A desvantagem brasileira para países como Japão, por exemplo, que também tem sua produção cinematográfica, é não ser forte culturalmente, no sentido de aceitar os importados, entendê-los e considerá-los de maior qualidade. Apesar de, o fato de aceitá-los, não considero uma desvantagem em si, o que nos falta é degustá-los antropofagicamente, como já sugerira Oswald de Andrade.
Geysa G. R. de Souza

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