Cinema: uma complexa máquina internacional da indústria. Para nós leigos, cinema é apenas uma máquina de contar estórias.Na primeira exibição pública em 1895, Bernadet nos conta que Méliès, um mágico, queria comprar o cinematógrafo de Lumiére, o inventor da máquina cinematográfica, no qual foi desmotivado pelo próprio inventor, que não acreditava no potencial que inventara.A câmera captava as imagens em preto e branco e ainda não tinha som. Mesmo assim, aquilo que o público vira era quase que inacreditável.A câmera ficava fixa, gravando tudo o que acontecia na frente, como um espectador no teatro. O público se emocionava com o que via, como tudo o que eles viam na vida real, estavam vendo bem ali, numa tela, fora da realidade. O poder de ilusão já era tão grande que, mesmo sabendo que não era vida real, eram imagens dentro de uma tela, assustaram-se com o trem que vinha em suas direções, como se o trem fosse transbordar da tela para a realidade e atropelar todos na platéia.Até hoje é assim, talvez com mais intensidade ainda, pois choramos, sentimos medo, rimos quando estamos diante de um filme do qual nos identificamos. O cinema dominante sempre trabalhou, pra tudo que fosse passado na tela, chegasse tão próximo da realidade, a ponto de realmente acreditarmos "ser real".O cinema é feito a partir do ponto de vista de alguém e jamais poderá expressar-se sozinho sem a interferência do homem. É muito simplista dizer que o cinema retrata a realidade, transferindo para o filme a responsabilidade da história que está sendo contada.O fato de se poder fazer cópias, aumentou ainda mais possibilidade de dominação ideológica burguesa. Talvez isto explica as legislações de proteção ao cinema nacional, no entanto, são tantas as falhas, que o cinema dominante norte americano consegue burlar as leis, associando-se a produtoras locais ou produzindo nos próprios países, ou seja, "lei pra estrangeiro ver".Aqui no Brasil os cinemas são obrigados a exibirem filmes nacionais numa determinada quantidade de dias, o que não funciona muito se formos prestar atenção ou esta quantidade exigida é insuficiente diante da quantidade de importados que consumimos. As O Brasil ainda sofre sérias ameaças às restrições de importação e ainda correm o sério risco de comprometerem a balança comercial do país.O filme é um produto. Uma mercadoria abstrata que se compara a uma passagem de avião. Compramos um bilhete pra embarcar numa viagem pra logo em seguida passarmos o acento pra outro.O que circula entre o produtor, distribuidor e exibidor são sempre diretos e nunca uma mercadoria concreta. Direitos de distribuir e direitos de exibir.Linguagem Ideológica.Quando o filme deixou de ser uma reportagem cinematográfica, documentários, paisagens, meras vistas naturais, o cinema passou a ter uma linguagem própria, passara a ser visto como "arte". O americano Griffith foi o primeiro a montar as imagens com a intenção de contar uma história. História contada a partir do ponto de vista burguês, pois "O Nascimento de uma Nação" ou "Intolerância" foram considerados racistas pôr algumas personalidades que criticaram o filme na época.Agora, o cinema ficaria ainda mais próximo da realidade, mais do que nunca, quando o som se industrializou em 1928. A partir daí podiam captar ruídos que forçariam ainda mais a ilusão de verdade.Nos anos 20 o cinema dominante tornara-se narrativo e perigoso.Na União Soviética, Einseinstein também desenvolve uma decupagem narrativa, porém, sua teria não é representar a realidade, mas uma realidade cinematográfica. O som era válido desde que ficasse em contraste com as imagens, o que era totalmente oposto ao cinema americano, que sincronizava os sons de acordo com as imagens.Outros movimentos surgiram nos anos 20 e 30, como o expressionismo alemão que, influenciados pela literatura e as artes plásticas, contavam histórias fantasiosas.A vanguarda francesa, nos anos 20, não escolheu a narrativa. A narrativa era um aspecto da literatura e o cinema tinha que encontrar uma forma mais pura de expressão.O surrealismo estava longe de enredos e estórias, sua marca era demonstrar uma aversão total à burguesia.Todas estas formas de expressão tinham apenas um ponto em comum: se opunham ao sistema cinematográfico capitalista.Muitos diretores tiveram problemas com seus produtores que queriam interferir na montagem final do filme, obviamente, pensando no retorno financeiro.Por isso são tão importantes os circuitos alternativos de exibição, pois não fazem parte do sistema mercadológico.O Superego.Nos anos 30 e 40, o cinema industrial americano tinha o diretor como um empregado entre muitos, que servia apenas pra dirigir os atores e supervisionar o plano de trabalho. Nem o roteiro e nem a montagem ficavam sobre a sua responsabilidade. Acabavam as filmagens e partiam pra outro trabalho que fossem escalados.Nos anos 50 a Nouvelle Vague francesa trabalhou duramente contra o anonimato, surgindo assim, o "filme de autor", no qual o autor era aquele que tinha total responsabilidade e poder sobre o filme. Os diretores tomaram pra si o trabalho como criação exclusiva, como se o cinema não fosse um trabalho coletivo.Os roteiristas, sentindo-se menosprezados, queriam tomar a atenção e lutaram pela valorização da escrita cinematográfica. Afinal, o filme seria feito para ilustrar o roteiro e não, vice e versa. Então começara um esvaziamento da imagem em favor da palavra.O que ainda não entendiam é que o cinema são fragmentos que formam um todo, que todas as funções são tão importantes quanto o narcisismo de um.Talvez a linguagem secreta do cinema seja fugir de todos estes esteriótipos. Seja a fuga da realidade. Seja a fuga do estrelismo. Seja abrir mão do egocentrismo em favor da arte.Buñuel comparou o filme ao sonhos, os de quando estamos dormindo. Não ao sonho que os americanos vendem de um ideal de vida burguesa. O artista vira uma estrela da mídia e o seu trabalho, tanto faz.O elogio ao tédio a necessidade que ele tinha de incomodar, uma rebeldia que não queria conciliar com o sistema dominante, tanto que não sentia-se satisfeito com boas críticas aos seus filmes.Buñuel queria ser anônimo, o que foi impossível, a ponto de defender a exclusão dos créditos no filme. Esta sim seria a verdadeira linguagem secreta do cinema.
Priscilla Duarte
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