domingo, 27 de junho de 2010

Deu no jornal Folha de São Paulo de hoje: Oficinas Culturais serão extintas.

Sempre achei que, depois da criação da rede de bibliotecas públicas, em 1935, pelo Mário de Andrade, as Oficinas Culturais eram a proposta mais avançada surgida no plano das políticas públicas de cultura em São Paulo. Voltadas para a formação de pessoas das mais diversas comunidades em todas as linguagens artísticas, as Oficinas superaram a visão “espetacular” de promoção de eventos que sempre marcou a visão burguesa de política cultural. As Oficinas permitiam que um(a) garoto(a) de uma comunidade carente e/ou distante pudesse descobrir, por exemplo, seu talento para tocar fagote. Ou dançar, interpretar, fazer cinema... Era uma estrutura e uma rede de unidades permanente, para além de iniciativas filantrópicas locais ou efêmeras (que também têm sua validade). A idéia foi implantada a partir do projeto desenvolvido e concretizado, inicialmente no Bom Retiro, na capital, por Rudhá de Andrade (justamente filho do outro Andrade) e Pedro Brás, dois velhos cineclubistas, em 1986 - se não me engano (me corrija, Carlos Seabra) na gestão do Jorge da Cunha Lima na secretaria de Cultura do estado.

O fim das Oficinas é exemplar sob vários aspectos. Mostra o papel das OSs (Organizações da Sociedade Civil) que, na verdade, constituem-se apenas numa forma do Estado “administrar” a burra burocracia estatal, mas sem qualquer autonomia ou democracia, isto é, sem real participação da sociedade, do público. Associações de fachada. Um memorando do secretário basta para acabar com a “Associação de Amigos” que geria atualmente as oficinas, e encerrar sem contestação cidadã uma trajetória de muitos anos de prática cultural que atingiu vários bairros e cidades paulistas. A medida recupera em sua integralidade a concepção de política pública limitada a eventos e ações privadas, reforçada, especialmente na gestão Sayad, por uma política de “personalismo monumental”. Explico: o economista que agora preside a TV Cultura (sem qualquer experiência prévia no campo) deixa um programa - de criação de um teatro de dança e de adaptação do prédio do Departamento de Trânsito para museu - que deve consumir quase um bilhão de reais (quantia bem superior ao orçamento da pasta). O projeto do novo teatro paulista foi definido sem licitação e entregue a um arquiteto sem qualquer concurso – fugindo a procedimento de praxe em todo o mundo. Centenas de milhões alocados pela escolha pessoal do secretário e do governador, grandes críticos da moralidade do governo federal... Para que, ao lado da Sala São Paulo, a elite paulistana possa ter também um teatro "de nível internacional" para uma companhia de dança. Política pública é uma questão de gerir necessidades e prioridades. Enquanto isso, a manutenção das bibliotecas e outros equipamentos públicos está abandonada, o projeto PopCine de criação de salas populares de cinema foi substituído pelo repasse de recursos diretamente aos exibidores comerciais, e as Oficinas, fechadas.

Evento e Monumento, em acertos diretos com a empresa privada. É a moral e a política cultural do PSDB. Um exemplo e um alerta do que deve acontecer com o Brasil se o José Serra for eleito presidente.

Abraços,

Felipe Macedo


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