segunda-feira, 28 de junho de 2010

Idade de ouro do cinema egípcio chega a São Paulo

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Houve um tempo em que o Egito foi quase como Hollywood. Ao menos para o mundo árabe.Eram tantos os filmes egípcios consumidos pelos países árabes entre as décadas de 1940 e 1970 que o cinema chegou a ser a segunda força econômica do país, atrás apenas do algodão. Pois são algumas das pérolas dessa idade de ouro que os paulistanos poderão ver até o dia 11 de julho. A mostra "Clássicos do Cinema Egípcio", em cartaz no Cinesesc, na Galeria Olido e na Cinemateca, reúne nove filmes trazidos, em película 35 milímetros, do Egito para cá. "São filmes muito conhecidos no mundo oriental, mas raríssimos aqui", diz Arlene Clemesha, uma das organizadoras da mostra. Clemesha esteve no Egito pessoalmente no início deste ano e, com a ajuda da Cinemateca local, conseguiu as cópias que agora rodam em nossos projetores.
Luta social

Dentre os filmes garimpados há dois que estão no imaginário de qualquer cinéfilo: "A Terra" (1969), de Youssef Chahine, e "A Múmia" (1969), de Chadi Abd al-Salam. São obras que, ainda hoje, impressionam. "A Terra" é um retrato cru, e ao mesmo tempo romântico, da luta do homem pela terra que outros _ economicamente mais fortes --querem tirar dele. Chahine constroi cenas memoráveis, como a da terra sendo irrigada de maneira épica ou as mãos a arranhar o chão, no plano final. Mas o filme também traz algo de "As Mil e Uma Noites", com seus amores que, para o Ocidente, soam um pouco como lenda. "A Múmia", por sua vez, nos ajuda a compreender a própria história do Egito, o fardo que é carregar, para sempre, uma antiguidade marcante. O filme, de tão cultuado, foi restaurado pela Fundação Martin Scorsese. Mas a seleção inclui também produções de temática mais leve, como "Algodão Doce" (1949), de Anwar Wagdi, um filme de viés romântico. "Existe uma longa tradição do melodrama no cinema egípcio", diz Clemesha. "Mas, nesse auge, muitos filmes tinham também um forte aspecto social. Vários diretores procuraram retratar a população rural, a miséria e até mesmo o papel da mulher na sociedade."

Decadência

A partir dos anos 1970, com a estatização da produção cinematográfica, o cinema egípcio foi, pouco a pouco, perdendo seu vigor. Hoje, é consumido localmente, mas raríssimas vezes viaja para o exterior. A partir dos anos 1980, outros países árabes, como Tunísia e Argélia, passaram a produzir cinemas nacionais com força artística. "Hoje, curiosamente, um dos cinemas mais interessantes do mundo árabe é feito na Palestina, um país que não existe", observa Clemesha.

A programação completa da mostra "Clássicos do Cinema Egípcio" você encontra em imo2010.icarabe.org

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