Atualmente o Brasil tem 2.200 salas de cinema, um número pequeno quando leva-se em conta a concentração das salas nos grandes centros urbanos do país. No Rio Grande do Norte, por exemplo, apenas Natal e Mossoró são contempladas com as estruturas de projeção de filmes. O número é alarmante. A média nacional é de 86,3 mil habitantes por sala. A alternativa acaba sendo os projetos culturais, que levam estruturas de projeção de filmes às comunidades periféricas ou às cidades mais distantes.
Uma destas iniciativas é o Cine Alecrim, que está sendo inaugurado hoje, no Centro Comunitário do Bairro, ao lado do mercado da Avenida Quatro. O Cine Alecrim é o resultado de uma parceria feita entre a ABD-RN e o Ministério da Cultura, através da Secretaria do Audiovisual e o projeto Cine Mais Cultura.
A ideia é exibir um filme semanalmente e discutir a performance do filme com um produtor local. Na edição de hoje serão exibidos a partir das 19h, o longa “Patativa do Assaré”, dirigido por Rosemberg Cariri e o curta “O Senhor do Engenho”, dirigido por Bertand Lira.
Patativa do Assaré fala da vida e da obra do poeta, destacando a relevância dos seus poemas, o significado político dos seus atos e a sua imensa contribuição à cultura.
Já O Senhor do Engenho conta a história do pequeno agricultor do nordeste brasileiro, na contra-mão da onda avassaladora de desmantelamento dos engenhos de cana de açúcar, que realiza um sonho acalentado desde a infância ao adquirir sua própria moenda.
A escolha dos filmes, segundo o diretor presidente da ABD-RN, o cineasta Carlos Tourinho é o de levar para o público, filmes que tratem de uma realidade próxima. Durante a sessão de hoje não haverá o debate com o produtor local, por se tratar da inauguração.
Segundo Carlos Tourinho, o Cine Alecrim é uma forma de colaborar com a formação de plateia para o cinema e ajudar na criação de uma demanda para o cinema brasileiro. Além disso, não existe uma reserva no mercado cultural interno para a produção nacional. “É preciso valorizar o produto local, porque traz a mão de obra, o emprego e colabora para a autonomia dos realizadores brasileiros”, disse Tourinho. O projeto entrará em cartaz todas as quintas-feiras, no mesmo horário.
Iniciativa de cine itinerante da Ultragaz chega a Natal
Assim como o Cine Alecrim, que colabora com a formação de plateia a partir de um ponto de exibição de filmes em bairro menos favorecido, o projeto itinerante da empresa Ultragaz percorre cidades brasileiras levando filmes, só que desta vez, do circuito comercial.
O Ultragaz Cultural percorre 25 cidades brasileiras, levando o cinema às comunidades mais carentes. Os filmes são exibidos numa carreta, onde é instalada uma sala de cinema. As crianças, os jovens e os adultos menos favorecidos de Natal poderão ver os filmes a partir de hoje, no Centro de Lazer dos Panatis, no Conjunto Panatis, das 8h30 às 18h.
Os ingressos serão distribuídos para alunos de escolas públicas (municipais e estaduais) e crianças assistidas por entidades filantrópicas. Para a comunidade são destinadas as sessões das 18h (com um número limitado de lugares). Durante os intervalos de cada sessão, o público está convidado a conhecer a sala de cinema que fica co interior do caminhão.
O projeto está em sua nona edição. Durante quatro meses serão feitas cerca de 240 apresentações, de filmes que há pouco saíram de cartaz nas salas de cinema comerciais. Alguns destes filmes são “A era do Gelo 3”, “Um faz de conta que acontece”, “O Exterminador do futuro”, dentre outros.
Os filmes exibidos hoje são: “O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes” (às 8h30); “Um Faz de Conta que Acontece” (às 10h); “A Era do Gelo 3” (às 14h); “Up Altas Aventuras” (às 16h); e “O Exterminador do Futuro” (às 18h). Os filmes de amanhã são: “Alvin e os Esquilos 2” (às 8h30); “Um Faz de Conta que Acontece” (às 12h); “A Era do Gelo 3” (às 14h); Up Altas Aventuras” (às 16h); e “Transformers” (às 18h).
Opinião
O cineclubista, cineasta e realizador alagoano, Hermano Figueiredo não concorda com ações itinerantes e diz que a saída para levar cinema às comunidades mais distantes (ou urbanas e periféricas) é criar associações como o próprio cineclube. Segundo ele, caminhões que levam cinema para tal lugar e iniciativas semelhantes são formas de excluir cada vez mais as comunidades já excluídas. “Democratizar é levar condições de organizar linhas de apoio a criação de grupos organizados para a exibição de filmes”, disse Hermano.
Outro ponto de vista é o da produtora Ana Lira. Ela acredita que iniciativas que visem a difusão e a formação de plateia, mesmo que sejam itinerantes, são positivos. Ela foi a responsável por dois projetos semelhantes. Um durante o Festival Gastronômico de Martins e outro numa antiga sala de cinema do Natal shopping, ambos em película. Ela fala que “não adianta levar um filme que as crianças não vão gostar. Nesta situação existe o risco de que elas fiquem com raiva do cinema”, disse.
Cinema no interior do Brasil
Para colaborar com a difusão das salas de cinema no Brasil o Governo Federal lança hoje o programa Cinema Perto de Você, que pretende abrir salas de exibição para preencher “vácuos” do circuito brasileiro. A iniciativa visa a incentivar o setor privado a erguer cinemas em periferias de grandes centros urbanos e em municípios sem essa opção cultural, por meio de linhas de financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de isenção tributária na manutenção e construção dos empreendimentos. É o “Cine Classe C”, que surge com uma meta ambiciosa: 600 novas salas em um intervalo de quatro anos.
Caso vingue, o programa fará o parque exibidor brasileiro saltar dos atuais 2.200 para 2.800 cinemas, número ainda inferior aos patamares da década de 1970, quando chegou-se a 3.276 em funcionamento no País.
As cifras divulgadas pela Ancine prevêem R$ 500 milhões para contratos de empréstimo e investimento, via Fundo Setorial do Audiovisual e Programa de Apoio à Cadeia Produtiva do Audiovisual (Procult), do BNDES. Também serão suspensos os tributos federais sobre máquinas, aparelhos, equipamentos e materiais de construção; a venda de ingressos e a publicidade serão isentas de PIS e Cofins por até cinco anos. A renúncia fiscal chegará a R$ 168 milhões.
O foco principal do Cinema Perto de Você são os 89 municípios com mais de 100 mil habitantes e sem nenhuma sala de exibição, como Ananindeua (PA) e Belford Roxo (RJ). Nas grandes cidades, o programa mira as zonas periféricas mais povoadas. Com a iniciativa do governo, o preço médio de uma sala de cinema deve cair de R$ 900 mil para R$ 700 mil, estima Rangel.
Maria Betânia Monteiro – repórter
Publicação: Jornal Tribuna do Norte / Natal / RN / 24 de Junho de 2010 às 00:00
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